O professor Miguel Nicolelis, médico e neurocientista reconhecido internacionalmente, considerado um dos 20 maiores cientistas da atualidade pela Scientific American, há sete anos implantou no RN, precisamente em Macaíba, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal. O projeto, além de um centro de pesquisas avançadas em neurociências, também vem com a proposta de multiplicação desse conhecimento com a população local, com destaque para um centro de saúde e uma escola de atenção básica.
Ontem a tribuna do norte publicou uma entrevista com o professor Nicolelis onde ele fala de sua ‘decepção’ com a falta de apoio dos políticos locais. Segundo o próprio, lhe parece que há uma falta de visão de futuro das lideranças locais, não entendendo o potencial de um projeto como esse para o desenvolvimento social e econômico do estado.
Diante dessa situação resolvi escrever uma mensagem ao professor Nicolelis tentando esclarecer um pouco como as coisas funcionam por aqui:
Caro Nicolelis, entendo, respeito e fico muito feliz com sua ousadia em trazer um projeto desse porte para o nosso estado. A relevância do Instituto, já reconhecido por toda comunidade científica mundial, é evidente e tenha certeza de que todos nós da republica potiguaris também a reconhecemos. Mas é importante ressaltar que a politicagem local não possui um real interesse, digamos assim, no desenvolvimento intelectual de seus conterrâneos. Se essa era a esperança, faltou um pouco de assessoria no seu projeto.
Cá nestas paragens a tônica é a política do pão e circo – sem o pão e com um circo de péssima qualidade. A campanha está ai pra ilustrar bem a situação. Alguém já viu as propostas dos governadoráveis? Ou dos deputadoráveis? senadoráveis? Mas isso não tem importância – para eles – numa campanha eleitoral. O negócio é musiquinha pelas ruas, distribuição de camisetas, picuinhas nos jornais e – na era digital – a troca de insultos e/ou rasgação de seda nas redes sociais, dependendo da sua coligação partidária no momento.
Isso tudo se reflete, por óbvio, no desempenho dos eleitos. Como realizar uma gestão eficiente se o máximo de planejamento numa campanha é em que locais os discursos trarão mais votos? Como montar uma equipe técnica idônea e competente tendo que compensar com cargos tantos apoiadores de campanha?
Mas o mais importante nessa situação toda, prezado professor, é que o interesse em manter a população ignorante, com pouca capacidade de visão crítica e menor ainda de mobilização, se sobrepõe a falta de visão de futuro. Aliás, a classe politica local, pelo contrário, deve ter uma visão de futuro bem definida nesse aspecto – a de manter a população de viseira, domável, afável e ignorante ao intrincado e fechadíssimo jogo de poder local. Imagina termos eleitores que se preocupam mais no futuro de sua família, de sua cidade, do que com o jingle e as propagandas de TV. Seria o caos eleitoral.
Portanto caro Nicolelis, não quero que você, nem por um momento, pense em desistir de nós. Precisamos de iniciativas como essa para mudar, um pouco que seja, a realidade local. Busque utilizar os recursos públicos, que são nossos e precisam ser bem investidos, mas, por favor, não tenha muita fé nos políticos locais.
Leia também:
Miguel Nicolelis - http://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_Nicolelis
Instituto Internacional de Neurociências de Natal - http://www.natalneuro.org.br/
Tribuna do Norte - http://tribunadonorte.com.br/
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